quinta-feira, 28 de março de 2013

O VERDADEIRO CABRAL


Universidade Federal de Minas Gerais
EBAP- Centro Pedagógico
Prof. Adair Carvalhais Júnior
Núcleo de História-2013

Leia o texto com atenção, marcando os termos que você não sabe o significado.
Procure no dicionário o significado das palavras marcadas e anote-os no caderno.
Faça uma segunda leitura.
Apenas depois de ler 2 vezes, responda às questões no seu caderno.


O VERDADEIRO CABRAL

                O primeiro torrão de solo tupiniquim avistado pelos portugueses também não foi o Monte Pascoal, no sul da Bahia. O primeiro contato dos europeus com a terra brasilis tampouco ocorreu em 22 de abril de 1500. O primeiro português a chegar ao Brasil foi o navegador Duarte Pacheco Pereira - um gênio da astronomia, navegação e geografia e homem da mais absoluta confiança do rei de Portugal, Pacheco chegou ao Brasil um ano e meio antes de Cabral, entre novembro e dezembro de 1498. O primeiro português a confirmar que existiam terras para lá do Oceano Atlântico desembarcou aqui num ponto localizado nas proximidades da fronteira do Maranhão com o Pará. De lá iniciou uma viagem pela costa norte, indo à ilha do Marajó e à foz do rio Amazonas. Quando regressou a Portugal, o rei ordenou-lhe que a expedição deveria ser mantida em sigilo. O motivo para que a descoberta fosse tratada como segredo de Estado era bastante simples: as terras encontravam-se em área espanhola, de acordo com a divisão estabelecida pelo famoso Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, quatro anos antes de Duarte Pacheco chegar à Amazônia. As novas pesquisas sobre a verdadeira história do descobrimento sepultam definitivamente a inocente versão ensinada nas escolas de que Cabral chegou ao Brasil por acaso, depois de ter-se desviado da sua rota em direção às Índias. O mais recente trabalho a sustentar que Duarte Pacheco foi o verdadeiro responsável pelo descobrimento foi publicado no ano passado em Portugal. Intitulado “A construção do Brasil”, de autoria do historiador português Jorge Couto, professor da Universidade de Lisboa.
                A base da tese gira em torno de um manuscrito, o Esmeraldo de situ orbis, produzido pelo próprio Duarte Pacheco entre 1505 e 1508 e que ficou desaparecido por quase quatro séculos. Até no título o documento revela seu caráter cifrado: Esmeraldo é um anagrama que associa as iniciais, em latim dos nomes de Manoel (Emmanuel), o rei, e  Duarte (Eduardus), o descobridor. De situ orbis significa “Dos sítios da Terra”. “Esmeraldo de situ orbis”, portanto era “O tratado dos novos lugares da Terra, por Manoel e Duarte”. Era um imenso relato das viagens de Duarte Pacheco Pereira não só ao Brasil, como à costa da África, principal fonte da riqueza comercial de Portugal no século XV. O rei d. Manoel considerou tão valiosas as informações náuticas, geográficas e econômicas do “Esmeraldo” que jamais permitiu que ele fosse tornado público.
                Um dos principais trechos diz o seguinte: “como no terceiro ano de vosso reinado do ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde vossa Alteza mandou descobrir a parte ocidental, passando além a grandeza do mar Oceano, onde é achada e navegada uma tam grande terra firme, com muitas e grandes ilhas adjacentes a ela e é grandemente povoada. Tanto se dilata sua grandeza e corre com muita  longura, que de uma arte nem da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela. É achado  nela muito e fino brasil com outras muitas cousas de que os navios nestes Reinos vem grandemente povoados.”
                O documento era, de fato, tão precioso que uma cópia foi contrabandeada em 1573 para a Espanha por um espião italiano, Giovanni Gesio, que o rei Filipe II mantinha a seu serviço na embaixada espanhola em Lisboa. (Na segunda metade do século XVI, Lisboa era uma espécie de Washington dos tempos atuais e estava na vanguarda das inovações técnicas da ciência náutica - a  tecnologia de ponta da época. A capital de Portugal vivia infestada de espiões, principalmente espanhóis e italianos, que escarafunchavam todos os cantos para descobrir os segredos que permitiram aos portugueses construir um império que ia do Oriente ao Brasil).
                Sua conclusão: em outubro daquele ano o rei português d. Manoel I viu frustradas as suas ambições de subir também ao trono da Espanha, depois que morreu sua mulher, dona Isabel, filha dos reis católicos Isabel de Castela e Fernando de Aragão. Perdeu assim sentido a política de boa vizinhança que ele vinha desenvolvendo com os espanhóis. D. Manoel I resolveu, então, mandar uma expedição para descobrir terras na “parte ocidental, passando além da grandeza do “mar Oceano”. A parte ocidental era onde ficavam as terras descobertas pelos espanhóis nas Américas, na primeira expedição comandada por Cristovão Colombo em 1492. O mar Oceano era como os portugueses chamavam o Oceano Atlântico. A expedição deveria também determinar, no local, a linha imaginária traçada pelo Tratado de Tordesilhas para funcionar como marco divisório dos domínios portugueses e espanhóis no mundo. Para a missão, d. Manoel I escalou o melhor homem que tinha à disposição: Duarte Pacheco era um exímio navegador, como tinha demonstrado na costa da África, era da sua total confiança e, o mais importante, tinha sido um dos conselheiros técnicos de Portugal nas intrincadas negociações do Tratado de Tordesilhas.
                Após ter recebido as ordens do rei Duarte Pacheco zarpou, em novembro de 1498, do arquipélago de Cabo Verde, na costa da África, em direção à linha do Equador. Continuou navegando para o Sul até que avistou terra na região que hoje é fronteira entre o litoral do Maranhão e do Pará. A partir desse ponto, favorecido pela corrente marítima das Guianas, Duarte Pacheco não teve dificuldades para iniciar uma viagem pelo litoral brasileiro que foi até a Ilha do Marajó e a foz do rio Amazonas.
                Durante o trajeto encontrou populações compostas de homens “pardos quase brancos.” Essas eram justamente as características físicas dos índios aruaques que dominavam a orla marítima do Norte do Brasil: criaram na ilha do Marajó uma sociedade complexa, de escala urbana e alta densidade demográfica, produtora de um artesanato até sofisticado, como a célebre cerâmica marajoara. Isso explicaria a referência de Duarte Pacheco ao Brasil como uma “terra grandemente povoada”.
                Na volta a Portugal os resultados da expedição foram mantidos sob absoluto sigilo. Uma cláusula do Tratado de Tordesilhas obrigava Portugal e Espanha a comunicarem ao outro reino as ilhas e terras descobertas em domínios alheios. Ora, todas as terras descobertas ficavam na área dos espanhóis. O rei d. Manoel I, que não tinha mais como subir ao trono espanhol, calou para não dar munição de graça aos concorrentes: assim, o descobrimento do Brasil ocorreu no contexto de uma intensa rivalidade entre Portugal e Espanha.              Deste modo a viagem de Cabral continua a ser considerada o descobrimento oficial do Brasil apenas por uma questão de tradição e de comodidade.
O silêncio sobre a expedição de Duarte Pacheco foi apenas mais um golpe baixo na feroz competição que portugueses e espanhóis travavam no final do século XV. Na luta pela hegemonia na Península Ibérica e para ver quem primeiro descobriria o caminho das ricas especiarias das Índias, Portugal e Espanha travaram uma guerra suja, cujo estopim foi a descoberta de Colombo, em 1492 de algumas ilhas nas Bahamas e nas Antilhas. Quando Colombo retornou da viagem o rei de Portugal, d. João II, reclamou a propriedade das novas terras, que  seriam lusitanas de acordo com o Tratado de Alcaçóvas, de 1479. Para revogar a exigência de Portugal, os reis espanhóis apelaram para a sua influência no Vaticano. O papa Alexandre VI era um conterrâneo, natural de Valência, que devia favores aos  soberanos espanhóis. No primeiro semestre de 1493, Alexandre VI baixou duas bulas, as Inter Caetera (pronuncia-se intercétera e significa  “entre partes” ), que garantiam aos espanhóis a posse das novas terras. Para não despertar nos portugueses a suspeita de favorecimento o papa pré-datou as bulas papais. A Inter Caetera II, que dava aos espanhóis todas as terras a 100 léguas a oeste e sul da ilha dos Açores e Cabo Verde, foi datada de 4 de maio de 1493 mas na verdade, foi concluída apenas em 28 de junho.
                Quando Alexandre VI baixou as Inter Caetera, o monarca português blefou com a ameaça de uma guerra e conseguiu forçar os espanhóis a sentarem à mesa para rediscutir a divisão estabelecida pelo papa. Nasceu aí o famoso Tratado de Tordesilhas.
                Nas negociações d. João II conseguiu que a demarcação entre os domínios portugueses e espanhóis fosse esticada para uma linha imaginária, que ia do Pólo Norte ao Sul, a 370 léguas a oeste de Cabo Verde. Na versão da Inter Caetera II, a totalidade do território brasileiro ficava em área espanhola. Os domínios portugueses terminariam no meio do Oceano Atlântico, antes até da ilha de Fernando de Noronha. Por Tordesilhas a linha de demarcação avançou até uma parte do Estado do Maranhão, incluindo na área portuguesa a maior parte das terras brasileiras. Era um sinal de que eles já tinham indícios da existência do Brasil.
                Duarte Pacheco foi um dos peritos portugueses nas negociações de Tordesilhas que, segundos os testemunhos da época, deram um banho nos espanhóis. Ele assinou o tratado em 7 de junho de 1494 na “qualidade de contínuo da casa do senhor rei de Portugal.”
                Pela quantidade de homens e naus a expedição de Cabral é mais uma prova de que os portugueses vinham para tomar posse do Brasil e usá-lo como base de apoio da rota para as Índias. Ele partiu do Rio Tejo, em Lisboa com cerca de 1,5 mil homens e 13 embarcações (nove naus, três caravelas e uma naveta de mantimentos). Apenas para comparação, quando chegou às Índias em 1498, Vasco da Gama viajou com apenas três embarcações. Oficialmente a missão de Cabral era estabelecer uma feitoria comercial na cidade de Calecut. Esse era o motivo da presença na expedição de Pedro Vaz de Caminha - o autor da “certidão de nascimento” do Brasil seria um dos escrivães de despesa (uma espécie de contador) do entreposto comercial a ser criado na Índia. Os portugueses acreditavam que o Brasil encontrava-se mais próximo do Sul da África do que realmente está. Após a viagem de Cabral perceberam o erro e só partiram para a ocupação do Brasil 30 anos depois.
                Ao alcançar Porto Seguro, a esquadra tinha 12 embarcações (uma se perdeu no caminho e depois conseguiu retornar  a Portugal). Cabral ficou apenas uma semana rumando para a segunda etapa, mas fracassou na missão de estabelecer a feitora em Calecut. Um ataque de surpresa dos hindus, atiçados por comerciantes muçulmanos, destruiu a feitoria e massacrou vários portugueses, entre eles Caminha. Cabral voltou a Lisboa com apenas seis navios.
                O que teria sido o grande feito da sua vida, o descobrimento do Brasil, só foi divulgado um ano depois que a carta de Caminha chegou a Portugal. Isso demonstra a pouca importância que os portugueses deram à expedição de Cabral - mais um indício de que se tratava, realmente, da segunda viagem ao Novo Mundo. Até recentemente a casa que pertence à família de Cabral, em Santarém, cidade portuguesa onde está o seu túmulo, funcionava como um prostíbulo. Está sendo agora restaurada por causa das comemorações do ano 2000.

Revista ISTO É nº 1469 de 26/1197 (adaptado)

Questões

1. Por que a viagem de Duarte Pacheco foi mantida em sigilo pelo rei português ?
2. Em que região do Brasil chegou Duarte da Costa ?
3. O que foi a bula Inter Caetera ?
4. Cite e explique os indícios de que os portugueses já sabiam da existência do Brasil antes da viagem de Cabral.
5. Qual era a missão de Cabral ?

                

As Grandes Navegações



Universidade Federal de Minas Gerais
EBAP- Centro Pedagógico
Prof. Adair Carvalhais Júnior
Núcleo de História- 2013


Leia o texto com atenção, marcando os termos que você não sabe o significado.
Procure no dicionário o significado das palavras marcadas e anote-os no caderno.
Faça uma segunda leitura.
Apenas depois de ler 2 vezes, responda às questões abaixo, no seu caderno.


As Grandes Navegações

       Durante os séculos XV e XVI os países europeus que realizavam comércio com as Índias, destacando-se Portugal e Espanha, tiveram que encontrar uma nova rota marítima para chegar a essa região. O domínio turco sobre o Mar Mediterrâneo impedia que os comerciantes da Europa utilizassem esse caminho para alcançar o Oriente e, assim, os governos europeus viram-se obrigados a organizar viagens para procurar um outro trajeto.
        Mudar de caminho significava deixar a segurança do já conhecido Mediterrâneo para desafiar o pouco conhecido Oceano Atlântico. O desconhecido, como sempre, causou medo e despertou a imaginação dos homens da época. A crença em lendas de monstros que habitavam o Oceano, de águas ferventes além da linha do horizonte, de seres sobrenaturais que poderiam ser encontrados no Atlântico mostra-nos o pânico dos europeus em relação às águas desconhecidas naquele momento.
        Por outro lado, a necessidade de descobrir uma nova rota comercial e o desejo de enriquecer- se com os tesouros que julgavam existir no Oriente estimulavam esses homens a participarem das expedições que saiam dos portos da Europa sem destino certo. A insegurança era enorme, pois, não se sabia para onde iriam os navios, o que ou quem encontrariam lá ou, até mesmo, se chegariam a algum lugar antes que um naufrágio destruísse as embarcações.
            As tripulações passavam por inúmeras dificuldades, os navios não comportavam quantidade suficiente de alimentos e água potável fazendo com que a fome e sede fossem constantes nas longas viagens. O principal alimento era um tipo de biscoito, especialmente preparado, que, contudo, estragava devido a seu mau armazenamento.
         As condições de higiene eram péssimas, não havia banheiros, o que facilitava a proliferação de ratos e baratas e favorecia o aparecimento de doenças que atingiam, muitas vezes fatalmente, grande parte dos passageiros. A enfermidade mais comum foi o escorbuto, causada pela deficiência de determinadas vitaminas na alimentação.
         Os padres, presentes na tripulação, eram os responsáveis pelo cuidado com os doentes e a sangria era o principal método médico utilizado para tentar curar os enfermos. As mortes diárias eram muitas e os cadáveres ficavam expostos no convés até que fossem lançados ao mar.
        A hierarquia social era mantida a bordo. Dependendo de sua posição social o indivíduo tinha privilégios dentro do navio como, por exemplo, o direito de levar consigo mais alimentos para seu consumo particular. Os Regimentos eram os documentos que estabeleciam as regras a serem seguidas por cada membro da tripulação e o capitão era o responsável pela fiscalização de seu cumprimento.
         O dia a dia das Grandes Navegações foi, sem dúvida, difícil e cheio de desafios, mas os homens da época não desistiram de seus objetivos. Nesta sua "aventura" acabaram "descobrindo" o Continente Americano e seus habitantes, fato que marcou profundamente a história de toda humanidade.    

(Texto adaptado de “O Ponto onde Estamos”, de Paulo Micelli por Juliana Diniz Valério)

Perguntas
1. Que dificuldades passavam as tripulações dos navios ?
2. Qual a função dos padres entre a tripulação ?
3. Você acha que os padres teriam outras funções ? Quais ? Por que ?
4. Que motivos levaram os homens a se aventurar no desconhecido ?
5. O que obrigou os europeus a procurarem uma nova rota para o Oriente ?

quinta-feira, 21 de março de 2013

2013