Universidade Federal de Minas
Gerais
EBAP- Centro Pedagógico
Prof. Adair
Carvalhais Júnior
Núcleo de
História-2013
Leia o texto com atenção,
marcando os termos que você não sabe o significado.
Procure no dicionário o
significado das palavras marcadas e anote-os no caderno.
Faça uma segunda leitura.
Apenas depois de ler 2 vezes,
responda às questões no seu caderno.
O VERDADEIRO CABRAL
O
primeiro torrão de solo tupiniquim avistado pelos portugueses também não foi o
Monte Pascoal, no sul da Bahia. O primeiro contato dos europeus com a terra brasilis tampouco ocorreu em 22 de
abril de 1500. O primeiro português a chegar ao Brasil foi o navegador Duarte
Pacheco Pereira - um gênio da astronomia, navegação e geografia e homem da mais
absoluta confiança do rei de Portugal, Pacheco chegou ao Brasil um ano e meio
antes de Cabral, entre novembro e dezembro de 1498. O primeiro português a
confirmar que existiam terras para lá do Oceano Atlântico desembarcou aqui num
ponto localizado nas proximidades da fronteira do Maranhão com o Pará. De lá
iniciou uma viagem pela costa norte, indo à ilha do Marajó e à foz do rio
Amazonas. Quando regressou a Portugal, o rei ordenou-lhe que a expedição
deveria ser mantida em sigilo. O motivo para que a descoberta fosse tratada
como segredo de Estado era bastante simples: as terras encontravam-se em área
espanhola, de acordo com a divisão estabelecida pelo famoso Tratado de
Tordesilhas, assinado em 1494, quatro anos antes de Duarte Pacheco chegar à
Amazônia. As novas pesquisas sobre a verdadeira história do descobrimento
sepultam definitivamente a inocente versão ensinada nas escolas de que Cabral
chegou ao Brasil por acaso, depois de ter-se desviado da sua rota em direção às
Índias. O mais recente trabalho a sustentar que Duarte Pacheco foi o verdadeiro
responsável pelo descobrimento foi publicado no ano passado em Portugal.
Intitulado “A construção do Brasil”, de autoria do historiador português Jorge
Couto, professor da Universidade de Lisboa.
A
base da tese gira em torno de um manuscrito, o Esmeraldo de situ orbis, produzido pelo próprio Duarte Pacheco
entre 1505 e 1508 e que ficou desaparecido por quase quatro séculos. Até no
título o documento revela seu caráter cifrado: Esmeraldo é um anagrama que associa as iniciais, em latim dos nomes
de Manoel (Emmanuel), o rei, e Duarte
(Eduardus), o descobridor. De situ orbis
significa “Dos sítios da Terra”. “Esmeraldo de situ orbis”, portanto era “O
tratado dos novos lugares da Terra, por Manoel e Duarte”. Era um imenso relato
das viagens de Duarte Pacheco Pereira não só ao Brasil, como à costa da África,
principal fonte da riqueza comercial de Portugal no século XV. O rei d. Manoel
considerou tão valiosas as informações náuticas, geográficas e econômicas do
“Esmeraldo” que jamais permitiu que ele fosse tornado público.
Um
dos principais trechos diz o seguinte: “como no terceiro ano de vosso reinado
do ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde vossa Alteza
mandou descobrir a parte ocidental, passando além a grandeza do mar Oceano,
onde é achada e navegada uma tam grande terra firme, com muitas e grandes ilhas
adjacentes a ela e é grandemente povoada. Tanto se dilata sua grandeza e corre
com muita longura, que de uma arte nem
da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela. É achado nela muito e fino brasil com outras muitas
cousas de que os navios nestes Reinos vem grandemente povoados.”
O
documento era, de fato, tão precioso que uma cópia foi contrabandeada em 1573
para a Espanha por um espião italiano, Giovanni Gesio, que o rei Filipe II
mantinha a seu serviço na embaixada espanhola em Lisboa. (Na segunda metade do
século XVI, Lisboa era uma espécie de Washington dos tempos atuais e estava na
vanguarda das inovações técnicas da ciência náutica - a tecnologia de ponta da época. A capital de
Portugal vivia infestada de espiões, principalmente espanhóis e italianos, que
escarafunchavam todos os cantos para descobrir os segredos que permitiram aos
portugueses construir um império que ia do Oriente ao Brasil).
Sua
conclusão: em outubro daquele ano o rei português d. Manoel I viu frustradas as
suas ambições de subir também ao trono da Espanha, depois que morreu sua
mulher, dona Isabel, filha dos reis católicos Isabel de Castela e Fernando de
Aragão. Perdeu assim sentido a política de boa vizinhança que ele vinha
desenvolvendo com os espanhóis. D. Manoel I resolveu, então, mandar uma
expedição para descobrir terras na “parte ocidental, passando além da grandeza
do “mar Oceano”. A parte ocidental era onde ficavam as terras descobertas pelos
espanhóis nas Américas, na primeira expedição comandada por Cristovão Colombo
em 1492. O mar Oceano era como os portugueses chamavam o Oceano Atlântico. A
expedição deveria também determinar, no local, a linha imaginária traçada pelo
Tratado de Tordesilhas para funcionar como marco divisório dos domínios
portugueses e espanhóis no mundo. Para a missão, d. Manoel I escalou o melhor
homem que tinha à disposição: Duarte Pacheco era um exímio navegador, como
tinha demonstrado na costa da África, era da sua total confiança e, o mais
importante, tinha sido um dos conselheiros técnicos de Portugal nas intrincadas
negociações do Tratado de Tordesilhas.
Após
ter recebido as ordens do rei Duarte Pacheco zarpou, em novembro de 1498, do
arquipélago de Cabo Verde, na costa da África, em direção à linha do Equador.
Continuou navegando para o Sul até que avistou terra na região que hoje é
fronteira entre o litoral do Maranhão e do Pará. A partir desse ponto,
favorecido pela corrente marítima das Guianas, Duarte Pacheco não teve
dificuldades para iniciar uma viagem pelo litoral brasileiro que foi até a Ilha
do Marajó e a foz do rio Amazonas.
Durante
o trajeto encontrou populações compostas de homens “pardos quase brancos.”
Essas eram justamente as características físicas dos índios aruaques que
dominavam a orla marítima do Norte do Brasil: criaram na ilha do Marajó uma
sociedade complexa, de escala urbana e alta densidade demográfica, produtora de
um artesanato até sofisticado, como a célebre cerâmica marajoara. Isso
explicaria a referência de Duarte Pacheco ao Brasil como uma “terra grandemente
povoada”.
Na
volta a Portugal os resultados da expedição foram mantidos sob absoluto sigilo.
Uma cláusula do Tratado de Tordesilhas obrigava Portugal e Espanha a comunicarem
ao outro reino as ilhas e terras descobertas em domínios alheios. Ora, todas as
terras descobertas ficavam na área dos espanhóis. O rei d. Manoel I, que não
tinha mais como subir ao trono espanhol, calou para não dar munição de graça
aos concorrentes: assim, o descobrimento do Brasil ocorreu no contexto de uma
intensa rivalidade entre Portugal e Espanha. Deste
modo a viagem de Cabral continua a ser considerada o descobrimento oficial do
Brasil apenas por uma questão de tradição e de comodidade.
O silêncio
sobre a expedição de Duarte Pacheco foi apenas mais um golpe baixo na feroz
competição que portugueses e espanhóis travavam no final do século XV. Na luta
pela hegemonia na Península Ibérica e para ver quem primeiro descobriria o
caminho das ricas especiarias das Índias, Portugal e Espanha travaram uma
guerra suja, cujo estopim foi a descoberta de Colombo, em 1492 de algumas ilhas
nas Bahamas e nas Antilhas. Quando Colombo retornou da viagem o rei de
Portugal, d. João II, reclamou a propriedade das novas terras, que seriam lusitanas de acordo com o Tratado de
Alcaçóvas, de 1479. Para revogar a exigência de Portugal, os reis espanhóis
apelaram para a sua influência no Vaticano. O papa Alexandre VI era um conterrâneo,
natural de Valência, que devia favores aos
soberanos espanhóis. No primeiro semestre de 1493, Alexandre VI baixou
duas bulas, as Inter Caetera
(pronuncia-se intercétera e significa
“entre partes” ), que garantiam aos espanhóis a posse das novas terras.
Para não despertar nos portugueses a suspeita de favorecimento o papa pré-datou
as bulas papais. A Inter Caetera II,
que dava aos espanhóis todas as terras a 100 léguas a oeste e sul da ilha dos
Açores e Cabo Verde, foi datada de 4 de maio de 1493 mas na verdade, foi
concluída apenas em 28 de junho.
Quando
Alexandre VI baixou as Inter Caetera,
o monarca português blefou com a ameaça de uma guerra e conseguiu forçar os
espanhóis a sentarem à mesa para rediscutir a divisão estabelecida pelo papa.
Nasceu aí o famoso Tratado de Tordesilhas.
Nas
negociações d. João II conseguiu que a demarcação entre os domínios portugueses
e espanhóis fosse esticada para uma linha imaginária, que ia do Pólo Norte ao
Sul, a 370 léguas a oeste de Cabo Verde. Na versão da Inter Caetera II, a totalidade do território brasileiro ficava em
área espanhola. Os domínios portugueses terminariam no meio do Oceano
Atlântico, antes até da ilha de Fernando de Noronha. Por Tordesilhas a linha de
demarcação avançou até uma parte do Estado do Maranhão, incluindo na área portuguesa
a maior parte das terras brasileiras. Era um sinal de que eles já tinham
indícios da existência do Brasil.
Duarte
Pacheco foi um dos peritos portugueses nas negociações de Tordesilhas que,
segundos os testemunhos da época, deram um banho nos espanhóis. Ele assinou o
tratado em 7 de junho de 1494 na “qualidade de contínuo da casa do senhor rei
de Portugal.”
Pela
quantidade de homens e naus a expedição de Cabral é mais uma prova de que os
portugueses vinham para tomar posse do Brasil e usá-lo como base de apoio da
rota para as Índias. Ele partiu do Rio Tejo, em Lisboa com cerca de 1,5 mil
homens e 13 embarcações (nove naus, três caravelas e uma naveta de
mantimentos). Apenas para comparação, quando chegou às Índias em 1498, Vasco da
Gama viajou com apenas três embarcações. Oficialmente a missão de Cabral era
estabelecer uma feitoria comercial na cidade de Calecut. Esse era o motivo da
presença na expedição de Pedro Vaz de Caminha - o autor da “certidão de
nascimento” do Brasil seria um dos escrivães de despesa (uma espécie de
contador) do entreposto comercial a ser criado na Índia. Os portugueses
acreditavam que o Brasil encontrava-se mais próximo do Sul da África do que
realmente está. Após a viagem de Cabral perceberam o erro e só partiram para a
ocupação do Brasil 30 anos depois.
Ao
alcançar Porto Seguro, a esquadra tinha 12 embarcações (uma se perdeu no
caminho e depois conseguiu retornar a
Portugal). Cabral ficou apenas uma semana rumando para a segunda etapa, mas
fracassou na missão de estabelecer a feitora em Calecut. Um ataque de surpresa
dos hindus, atiçados por comerciantes muçulmanos, destruiu a feitoria e
massacrou vários portugueses, entre eles Caminha. Cabral voltou a Lisboa com
apenas seis navios.
O
que teria sido o grande feito da sua vida, o descobrimento do Brasil, só foi
divulgado um ano depois que a carta de Caminha chegou a Portugal. Isso
demonstra a pouca importância que os portugueses deram à expedição de Cabral -
mais um indício de que se tratava, realmente, da segunda viagem ao Novo Mundo.
Até recentemente a casa que pertence à família de Cabral, em Santarém, cidade
portuguesa onde está o seu túmulo, funcionava como um prostíbulo. Está sendo
agora restaurada por causa das comemorações do ano 2000.
Revista ISTO É nº 1469 de 26/1197
(adaptado)
Questões
1. Por que a viagem de Duarte
Pacheco foi mantida em sigilo pelo rei português ?
2. Em que região do Brasil chegou
Duarte da Costa ?
3. O que foi a bula Inter Caetera ?
4. Cite e explique os indícios de
que os portugueses já sabiam da existência do Brasil antes da viagem de Cabral.
5. Qual era a missão de Cabral ?